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PUCK LYRE
Publicado em 02 de janeiro de 2024

Considerado o fonógrafo mais acessível da época, o Puck é uma máquina extremamente simples, que conta com um pequeno mecanismo disposto sobre uma base de ferro fundido. Havia modelos em formato de sereia, com imagem de leão e até mesmo montados em uma pequena caixa de madeira. Mas o modelo mais popular era sem dúvida este em formato de uma lira.

No catálogo da Casa Edison, publicado em 1902, o Puck é apresentado em dois formatos para o mercado brasileiro:

 

N'este apparelho tenho, dois typos differentes, só diferençiando-os o formato, posto que um é de ferro e collocado sobre uma taboa envernizada e o e outro collocado sobre uma caixa envernizada e são conhecidos por Lyrophones Typos 1 e 2

O catálogo também corrobora com a história sobre o Puck ter sido o fonógrafo mais barato da época, informando assim o leitor:

 

Enfim, depois de diversos typos de machinas falantes apresentarei um dos que reproduzem vozes por meio de phonogramas de cêra, de preço ao alcance de qualquer bolsa. Os seus sons são bem agradaveis e nitidos.

 

Para se ter uma ideia dos preços das máquinas na época, os “Lyrophones Typos 1 e 2” custavam respectivamente 29$000 e 25$000 réis. No mesmo catálogo um Edison Standard custava 160$000 e um Graphophone Modelo Q, o menor fonógrafo da Columbia, custava 50$000 réis.

Uma curiosidade sobre o Puck é que sua produção não era exclusividade de uma única empresa, diversos fabricantes produziram e distribuíram este tipo de fonógrafo, sobretudo na Alemanha e França. Este que restaurei foi fabricado pela empresa de George Carette, identificada pela sigla G. C. & Co. que aparece na parte inferior da base. Há também a sigla D.R.G.M.  gravada em algumas peças que significa Deutsche Reichs-Gebrauchmuste e possibilita identificar a origem alemã da máquina.

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Apesar de serem máquinas “populares” no começo do século XX, hoje em dia são relativamente raras, mesmo fora do Brasil. Então neste processo de restauração o maior desafio foi encontrar as peças que faltavam, como a corneta e o reprodutor.

Após um longo garimpo, encontrei uma corneta em ótimas condições, estava apenas descolada e necessitando de uma limpeza e polimento. O reprodutor também estava em boas condições, mas precisava de diafragma, agulha e juntas novas. Um ótimo fornecedor dessas peças é o Pedro Martínez, é possível encomendar os produtos dele através do site PedroFono. Para os marinheiros de primeira viagem, recomendo assistir este vídeo produzido pelo próprio Pedro explicando todo o processo de reconstrução de um reprodutor.

As peças metálicas receberam um banho de níquel. Inclusive a estrutura do motor, que estava pintada na cor preta, mas originalmente era comum ser niquelada. Já a base de ferro fundido foi repintada. Como havia presença de ferrugem, foi realizada uma limpeza com escova de aço e posterior aplicação de um convertedor de ferrugem antes da realização da pintura.

O motor estava completo, corda e engrenagens inteiras, então foi realizada a limpeza e lubrificação das peças. Faltava uma pequena bucha que apoia o governador, que consegui encontrar com a ajuda do Jean-Paul Agnard, um reconhecido colecionador de máquinas falantes.

Por fim, para o mecanismo funcionar foi necessário fazer uma nova correia, que no caso do Puck é uma espécie de cordão, que fiz a partir de uma linha com espessura compatível com as ranhuras da polia e mandril. Para melhorar a aderência encerei a linha com cera de abelha. Também fiz uma alteração no mecanismo colando um feltro na pequena lâmina que controla a velocidade do governador, isso ajudou a reter a lubrificação e também eliminar o ruído que havia no contato entre as duas peças metálicas.

Com tudo pronto e montado, iniciei os testes com o pequeno Puck Lyre. O ajuste que me pareceu mais complicado foi o peso do reprodutor sobre o cilíndro, porque é necessário certo peso para que a agulha não saia dos sulcos e que também haja certa pressão para uma boa reprodução do som. Mas se o reprodutor exercer muito peso sobre o cilíndro, isto demandará força do motor, o que não é uma tarefa fácil para um motor tão simples quanto o do Puck, ainda mais com uma corda antiga com horas de uso acumuladas. Diante desse contexto fiquei surpreso em conseguir reproduzir um cilindro completo, sem pulos da agulha e obtendo uma sonoridade agradável. Um resultado que considero bastante satisfatório.

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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