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PEROPHONE PIXIE GRIPPA
Publicado em 13 de junho de 2021

O Pixie Grippa é um gramofone portátil produzido pela empresa inglesa Perophone ao longo dos anos 1920. Essa pequena máquina possui quase a metade do tamanho de uma vitrola de maleta tradicional, mas mesmo com um prato de 6 polegadas consegue tocar discos maiores. Isso é possível através do deslizamento  horizontal da base do prato que aumenta a área para a colocação dos discos.

Dentro da pequena maleta do Pixie Grippa temos um mecanismo de origem suíça, fabricado pela Thorens. A máquina é movida por um motor compacto tracionado por uma pequena mola (corda). O sistema de reprodução conta com um diafragma de mica e uma charmosa corneta de alumínio que é fixada direto no reprodutor para auxiliar na propagação do som. 

Fazendo os primeiros testes com o mini gramofone foi possível constatar alguns problemas: o prato estava girando em baixa rotação e o sistema de controle de velocidade não estava atuando corretamente; o reprodutor estava produzindo um som ruidoso e as articulações do braço estavam emperradas, o que dificultava a agulha tocar e percorrer corretamente os sulcos do disco.  Além disso, havia alguns detalhes no acabamento, a alça da maleta estava quebrada, as partes metálicas e fechos estavam completamente enferrujados e o revestimento com alguns desgastes do tempo. Na parte interna, o tecido do prato estava manchado com alguns pequenos furos e o compartimento onde o braço e reprodutor são fixados e acomodados estava com a tinta descascando.

Comecei o restauro do Pixie Grippa desmontando o mecanismo para inspecionar as peças e identificar os possíveis defeitos. Não havia nenhum problema, apenas a lubrificação que estava bastante velha e prejudicando a movimentação correto de todo o mecanismo. Inclusive na parte interna do compartimento da mola a graxa já estava endurecida.  Mesmo problema com o controle de velocidade, a graxa envelhecida estava impedindo a atuação correta do sistema.

Usei um pouco de querosene para fazer uma limpeza mais pesada e remover toda lubrificação velha. Para auxiliar nesse processo de remoção da graxa velha costumo usar uma pequena escova de aço, mas com cautela para não danificar as peças, principalmente as pequenas engrenagens.

Algumas pessoas utilizam gasolina para esse tipo de limpeza. Ambos produtos são tóxicos e de difícil descarte, então eu evito ao máximo utilizá-los.

mecanismo perophone pixie grippa
mecanismo perophone pixie grippa
mola corda spring perophone pixie grippa

Como a mola do mecanismo é pequena, a princípio imaginei que seria um trabalho rápido e fácil. Mas o processo foi mais complicado do que com as molas maiores. Como o compartimento é pequeno, a mola fica bastante compactada lá dentro. Dessa forma, durante a montagem foi necessário usar uma força a mais para conseguir enrolar e acondicionar a mola dentro do compartimento. Além disso, por ficar muito compactada, o acesso à trava que prende o eixo na parte central da mola é bastante difícil. Então acabei desmontando e montando a mola sem remover o eixo, o que acabou aumentando o desafio. Mas com paciência e algumas tentativas foi possível concluir o trabalho sem maiores problemas.

É muito importante ter cuidado nesse processo de revisão das molas dessas máquinas mecânicas. Não é exagero usar equipamentos de proteção individual para evitar acidentes graves. Já falei sobre isso aqui no relato de restauração de uma grafonola Columbia Viva Tonal.

Com todas as peças limpas iniciei a montagem de todo o mecanismo, aplicando graxa nova nas engrenagens e óleo nos eixos e mancais. Terminada a montagem, iniciei alguns testes para aferir a velocidade de rotação do prato. 

 

Existem várias formas e ferramentas para medir a velocidade de rotação do prato. No momento estou usando um aplicativo gratuito para celular, o RPM Calculator. Para fazer a medição com esse aplicativo você posiciona o celular sobre o prato e conforme ele vai girando o sensor de rotação (giroscópio) do próprio celular capta a movimentação e o aplicativo apresenta o resultado em rpm.

 

Utilizando esse método observei que a rotação do prato do Pixie Grippa estava um pouco abaixo de 78 rpm, mesmo com o ajuste de velocidade no máximo.

Problemas com a velocidade de rotação do prato podem ter diversas causas. Mas nesse caso como as peças estavam em boas condições, bem ajustadas e lubrificadas, a solução foi fazer um pequeno ajuste no feltro que controla a movimentação do sistema de controle de velocidade (governor). O feltro estava muito para fora da presilha de fixação, restringindo o avanço do sistema e impedindo que a rotação atingisse os 78 rpm. A solução foi abrir a presilha e empurrar o feltro um pouco para trás. Com isso o problema foi resolvido.

Em relação ao sistema de reprodução de som, comecei revisando as articulações do braço que estavam emperrado devido à lubrificação velha. Em seguida iniciei a revisão do reprodutor para identificar as possíveis causas do excesso de ruídos indesejáveis durante a reprodução do som. Como era esperado, as juntas de borracha do diafragma já estavam ressecadas. Provavelmente nessas condições elas não estavam fazendo a vedação correta do diafragma, deixando-o solto, o que provavelmente era uma das causas do som ruidoso. Nesse caso a solução é trocar as juntas. 

 

O diafragma de mica estava bem manchado, mas após uma limpeza deu para ver que ela estava em ótimas condições. Para desmontar o diafragma da barra de fixação basta retirar um pequeno parafuso localizado na parte de trás da mica. Aproveitei a desmontagem para pintar novamente a barra na cor preta. Ao fixar novamente o diafragma na barra é importante selar o encaixe entre as peças com um pouco de cera, o mais comum é usar cera de abelha. Basta colocar um pouquinho de cera na emenda e aquecer a barra de fixação do diafragma com um ferro de solda que a cera irá derreter e se fundir entre as peças. 

mecanismo perophone pixie grippa
reprodutor perophone pixie grippa
diafragma perophone pixie grippa.jpg
mecanismo perophone pixie grippa
perophone pixie grippa

Terminada a revisão do braço e reprodutor, iniciei os retoques no acabamento. Comecei refazendo a pintura do compartimento de fixação e acomodação do braço e reprodutor. Desmontei as peças e lixei completamente a tinta velha. Como são peças onde há bastante contato, apliquei uma camada de primer, outra de tinta e finalizei com verniz para garantir uma maior durabilidade do acabamento.

Esse processo de refazer o acabamento em máquinas antigas como esse gera bastante discussão e não há consenso. Há aqueles que preferem preservar a originalidade total das peças, mantendo as “cicatrizes” provocadas pelo tempo. Mas há também quem prefira refazer o acabamento para as peças voltarem a ter o aspecto de quando elas saíram da fábrica a muitos anos atrás.

No restauro desse Pixie Grippa segui na segunda direção e optei por refazer o acabamento das peças que estavam muito deterioradas. Inclusive as peças niqueladas que estavam completamente enferrujadas receberam um novo banho de níquel. 

Aqui é importante dizer que nem sempre os banhos são suficientes para cobrir totalmente as peças que tiverem deformações nas suas superfícies provocadas pela corrosão. Então vale a pena avaliar as condições da peça e as vezes deixar como está. No caso desse trabalho, algumas peças ficaram com pequenas marcas da corrosão mesmo depois do banho. Mas particularmente avaliei que ficaram melhores do que como o aspecto enferrujado anterior.

Por fim, apliquei um novo tecido no prato na cor vermelha, tomando a liberdade de fugir da cor original verde. Particularmente achei o resultado mais bonito e combinou com a logotipo vermelho estampado na parte interna da tampa da maleta.

Corrigi alguns defeitos do revestimento da maleta usando um pouco de cola branca misturada com tinta à base d’agua. É possível chegar na tonalidade certa misturando diferentes tons de tinta. Essa mistura permite corrigir as quinas onde revestimento saiu e também as partes onde ele está começando a se soltar. Após essa correção, apliquei um pouco de graxa de sapato na caixa para uniformizar a coloração e trazer um pouco de brilho.

Também fiz o polimento da pequena corneta de alumínio e foi necessário colá-la novamente na base que faz o encaixe no reprodutor. Durante o polimento percebi que ela estava solta e provavelmente a vibração da corneta solta na base também estava contribuindo para gerar ruídos indesejáveis durante a reprodução do som.

perophone pixie grippa
perophone pixie grippa
perophone pixie grippa

Com tudo pronto e montado, é hora de conferir o resultado! Aproveitei o teste do pequeno Pixie Grippa para reproduzir um disco de 7 polegadas gravado pela Casa Edison. Na verdade, o disco é mais antigo que a própria máquina, é uma gravação mecânica de 1912 realizada no Rio de Janeiro. A música é Oh Ferro, uma modinha interpretada pelo Bahiano. Para ouvir mais fonogramas históricos da música popular brasileira em 78 RPM, recomendo o acervo disponível aqui no site Discografia Brasileira.

Agradecimentos ao Andreas Triantafyllou pela ajuda e generosidade em compartilhar dicas valiosas que foram imprescindíveis para o desenvolvimento desse trabalho.

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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