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PAILLARD Nº 970N 
Publicado em 15 de maio de 2021

Com notório reconhecimento mundial na fabricação de relógios, a empresa suíça Paillard iniciou sua incursão no universo das máquinas sonoras ainda no século XIX, com a fabricação de caixas de música e posteriormente fonógrafos. Já em 1905 passou a produzir a linha Maestrophone, composta por diversos modelos de gramofones, motores e reprodutores para discos. 

 

Há um vasto acervo de imagens e informações a respeito desses equipamentos aqui no Gramophone Museum.

Especificamente sobre essa vitrola, encontrei informações aqui no Graphonogram. De acordo com catálogo disponível no site, essa vitrola portátil é o modelo Nº 970N e foi lançada pela Paillard em 1937.

A novidade trazida por esse modelo é o mecanismo híbrido, que pode funcionar tanto por meio do tradicional método mecânico movido à corda, quanto através de um novo motor elétrico acoplado ao sistema. Outro ponto interessante desse modelo é o chassi todo produzido em metal, que forma uma peça única onde é fixado o mecanismo e o braço, e também conta com uma corneta embutida.

O trabalho nessa vitrola começou pela revisão do mecanismo. Realizei esse processo pouco tempo depois de ter concluído a restauração da Columbia Viva Tonal, de modo que uma comparação entre as duas máquinas foi inevitável. Ao desmontar a Paillard, logo tive a impressão de um mecanismo de qualidade superior, com engrenagens mais robustas e encaixes mais sólidos entre as peças. 

Como as peças estavam em ótimo estado de conservação, foi necessário apenas desmontar todo o mecanismo para fazer uma boa limpeza e aplicar uma nova lubrificação. Incluindo a corda, que também foi desmontada para que uma nova graxa fosse aplicada dentro do compartimento. Esse é um processo que necessita uma atenção redobrada. Como a corda fica comprimida dentro do compartimento do motor, durante a desmontagem e montagem ela pode escapar e causar acidentes. Fiz um relato mais específico sobre esse processo aqui.

Ainda sobre o mecanismo, foi interessante observar como o motor elétrico foi adicionado ao mecanismo. O motor do tipo A.C. funciona com tensões entre 100 a 240 Volts e a seleção é feita através de um parafuso localizado na parte superior do motor, que permite comutar entre três faixas de tensão: 100V a 120V; 120V a 200V; e 200V a 250V.

 

O motor fica acoplado diretamente no sistema de controle de velocidade (governor). Então quando a vitrola é ligada na tomada, o motor elétrico passa a tracionar esse sistema, que é responsável por transmitir o movimento para o eixo que gira o prato. Mas quando o funcionamento acontece através da corda, essa tração acontece por meio de energia mecânica. Assim o motor elétrico perde sua função e o sistema de controle de velocidade gira livremente, transmitindo o movimento para o prato. Acredito ser prudente desligar a vitrola da tomada ao usar a corda, uma vez que acionar os dois sistemas ao mesmo tempo provavelmente irá resultar no mal funcionamento do mecanismo.

Após a limpeza e lubrificação do mecanismo a vitrola já estava rodando perfeitamente. Como todo sistema é montado em um chassi único, foi bastante prático fazer os testes sem a necessidade de montar todas peças na maleta.

paillard_n970_portable_gramophone_motor
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paillard_n970_portable_gramophone
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Durante os testes foi possível obervar que o reprodutor Maestrophone nº 13 que acompanha a vitrola também estava em boas condições. Esse tipo de reprodutor com diafragma de alumínio costuma usar juntas de papel (cardboard), que não se deterioram facilmente como as juntas de borracha dos reprodutores com diafragma de mica.

O passo seguinte foi iniciar os reparos no acabamento da vitrola. O revestimento da maleta estava com rasgos grandes, principalmente na parte superior da tampa e nas quinas laterais. Havia também manchas e marcas do tempo em diversos pontos. A tampa da maleta estava ligeiramente amassada e também faltava a tampa do compartimento interno de guardar discos, onde vai o decalque com a logomarca da Paillard.

A ideia é sempre preservar ao máximo a originalidade dessas máquinas antigas. Mas nesse caso seria praticamente impossível conciliar essa intenção com a vontade de melhorar os aspectos estéticos da vitrola. Dessa forma, acabei optando por refazer todo o revestimento da maleta, o que viabilizou a correção do amassado na tampa, bem como a instalação de uma nova tampa para o compartimento interno de guardar os discos.

O processo foi bastante trabalhoso. Primeiro porque a remoção dos parafusos enferrujados nem sempre é uma tarefa fácil. E ainda havia algumas peças fixadas com rebites bifurcados, que ao ficarem velhos também são de difícil remoção. Além disso, o revestimento estava bastante ressecado e em algumas partes foi necessário fazer um lixamento para remover completamente os resíduos de revestimento e cola.

Concluído esse processo, descobri que a parte afundada da tampa era feita de um material do tipo eucatex, material também utilizado no fundo da maleta. Ambas chapas eram de espessura bastante fina, de modo que optei por substituir por duas chapas de madeira compensada um pouco mais espessa. Além de aumentar a resistência da maleta, essa substituição também evitou todo o trabalho envolvido na tentativa de corrigir o amassado da tampa.

Já a tampa do compartimento interno para guardar discos foi reproduzida em material MDF de 3,0 mm de espessura. O molde foi criado a partir de fotografias de vitrolas semelhantes que encontrei pesquisando na internet. O trabalho de aplicação do novo revestimento foi realizado pelo Álvaro da AMS Custom Cases. Foi aplicado um revestimento do tipo courvin na cor verde e foi adicionado um pequeno friso preto ao longo das laterais para fazer um melhor acabamento das emendas.

Para acompanhar o novo acabamento, também optei por levar as ferragens para dar um novo banho de níquel. Algumas peças estavam com o acabamento bastante deteriorado, como os fechos, o depósito para as agulhas usadas, o seletor de velocidade, entre outras. Somente o braço não recebeu um novo acabamento, uma vez que já estava em boas condições.

Uma peça que não foi possível aproveitar foi a alça de transporte original. Nesse aspecto o acabamento acabou fugindo das características originais, porque foi difícil encontrar uma alça parecida. As alças semelhantes que encontrei a venda eram para amplificadores, são maiores e possuem o acabamento emborrachado. Acabei optando por outro tipo de alça que combinasse mais com a estética da vitrola e não atrapalhasse o acesso ao encaixe lateral da manivela.

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Com tudo montado e ajustado é chegada a hora mais esperada, de conferir o resultado do trabalho. Para essa experiência selecionei uma gravação da mesma época, a famosa canção de Dorival Caymmi O que é que a baiana tem, gravada pela Odeon em 1939, com a participação da icônica Carmen Miranda.

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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