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EDISON STANDARD MODEL D
Publicado em 10 de agosto de 2024

O Standard foi um dos fonógrafos mais bem sucedidos de Edison, tendo um bom desempenho por um custo médio, resultando na venda de uma significativa quantidade deste modelo ao longo de mais de uma década de fabricação.

 

Ao longo dos anos, diversos tipos de standards foram lançados, desde o primeiro modelo conhecido como 2-Clip que tinha um gabinete quadrado e foi lançado em 1898, até o último que encerrou a produção dos standards por volta de 1913.

O Standard Model D foi fabricado da metade para o final deste período de produção, sendo lançado no ano de 1908. O novo modelo trazia algumas novidades em relação aos anteriores.

Por exemplo, o gabinete tinha uma moldura maior na parte inferior, que virou padrão nos modelos subsequentes. Na parte interna, as linhas desenhadas a mão na base do mecanismo foram substituídas por decalques dourados com linhas duplas e arabescos nos cantos. O motor era semelhante ao do modelo anterior, mas o mecanismo contava com uma alteração importante: a adição de um sistema intercambiável de engrenagens que possibilitava a reprodução de cilindros de 2 e 4 minutos.

Assim o modelo D também ficou conhecido como Combination Type e vinha de fábrica com dois reprodutores: o Model C, para cilindros de 2 minutos; e o Model H, para cilindros de 4 minutos. Essa novidade fez parte dos esforços de Edison em superar a crise que os cilindros de 2 minutos enfrentavam frente à popularização dos discos de 78 rpm, que tinham uma capacidade maior de gravação. Com isso, Edison lançou também em 1908 os cilindros Amberol, que tinham um sulco de tamanho reduzido, aumentando a capacidade de gravações para 4 minutos. Os pimeiros cilindros Amberol ainda eram feitos de cera, mas posteriormente foram substituídos pelos Blue Amberol fabricados em celuloide azul. 

Este que foi restaurado veio dos EUA e chegou até mim em condições muito ruins. Além da ação natural do tempo, que já demandaria bons cuidados, o trabalho de restauração aumentou com os danos ocorridos durante o transporte. Problema causado, em grande medida, pela embalagem que não foi feita adequadamente. Com isso, ocorreram avarias significativas no gabinete de madeira e em algumas peças do mecanismo. Diante do estado geral do fonógrafo, optei por realizar uma restauração completa para chegar em uma máquina funcional e com acabamento totalmente renovado.

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O trabalho começou juntando e organizando todos os pedaços soltos, para depois começar a colagem de cada parte do gabinete de madeira. Como já mencionado em outros relatos de restauração, a cola usada originalmente nestes fonógrafos é conhecida como hide glue, uma cola de origem animal de longo tempo de secagem. Essa cola ainda é fabricada nos dias de hoje e são muito usadas por luthiers, então não são difíceis de serem encontradas à venda.

O ponto crítico deste trabalho de colagem foi a tampa, que era a parte mais danificada. O mais delicado foi colar os pedaços da lâmina de carvalho que recobre a parte superior da tampa. Por sorte foi possível encontrar cada pedacinho quebrado e montar o quebra-cabeça.

Terminado o processo de colagem do gabinete o passo seguinte foi a aplicação do acabamento. Após remover o pouco que sobrou do acabamento original, finalizei a preparação do gabinete com uma lixa grão 320. Realizei na sequência a aplicação do tingidor para obter a coloração de carvalho envelhecido (antique oak), que era a cor original deste modelo quando saía de fábrica. Este é um passo importante para obter a coloração mais próxima da original deste fonógrafo, porque a coloração envelhecida que vemos hoje em dia não é apenas resultado da ação do tempo, mas também da aplicação de tingidor na madeira durante a fabricação.

Existem várias formas de fazer o tingimento da madeira, neste trabalho utilizei o mesmo processo que relatei aqui na restauração do Edison Standard Model B. Porém, fiz uma mudança na proporção da mistura dos tingidores para obter uma tonalidade mais clara, pois na época achei que o Model B ficou um pouco mais escuro do que esperava. Então neste usei a seguinte diluição: 1 parte de tingidor para 2 partes de diluente. A parte de tingidor eu misturei 60% na cor mogno e 40% na cor nogueira. Com isso obtive um resultado envelhecido mais avermelhado, que fica ainda mais quente depois da aplicação da goma laca.

Com a madeira já tingida, apliquei algumas demãos de goma laca para selar a madeira e, em seguida, fiz o preenchimento dos veios com um grain filler tingido de preto. Esse processo ajuda a fechar os veios e também realçá-los visualmente em relação a cor da superfície da madeira.

Concluído este processo, iniciei o longo trabalho de aplicação da goma laca com a técnica do polimento francês. É possível fazer a aplicação de goma laca com pincel ou com pistola, o que seria mais prático e rápido. Entretanto, como já estou acostumado a fazer a aplicação com boneca, optei por fazer o polimento francês.

Costumo utilizar a pistola apenas no final para cobrir o decalque com algumas camadas de goma laca. Desta vez optei por deixar o acabamento com um brilho mais acetinado, aplicando cera com uma palha de aço bem fina (0000).

Terminado o acabamento do gabinete de madeira, o passo seguinte foi refazer também a pintura da base do mecanismo. O processo também foi o mesmo relatado aqui no Standard Model B. Basicamente, o trabalho consiste em lixar a peça até chegar no metal, aplicar um primer e depois a tinta preta. A tinta original era black japanning, um tipo de material difícil de achar aqui no Brasil. Então utilizei tinta esmalte sintético, porque no fim do processo não faz muita diferente, pois a camada final é de goma laca.

Depois da aplicação da tinta preta, faço um lixamento leve com lixa grão 400 ou 600 para “quebrar” um pouco a superfície e melhorar a ancoragem da camada de goma laca. Aplico algumas demãos de goma laca com a pistola para preparar a superfície para receber os decalques. Finalizo com mais algumas demãos para proteger os decalques e esconder as bordas. No final de toda a pintura, costumo também fazer um polimento com massa de polir automotiva para tirar qualquer imperfeição.

Este mesmo acabamento foi aplicado no braço do reprodutor e também na tampa das engrenagens. Para acompanhar o novo acabamento, as partes metálicas também receberam um novo banho de níquel.

O passo seguinte foi iniciar a revisão mecânica. O motor estava em boas condições, apenas com uma adaptação nas laminas (molas) que sustentam os pesos do controle de velocidade. Foi necessário instalar novas lâminas e pesos para o correto funcionamento do motor. Além disso, foi realizado uma limpeza completa de todas as peças, seguida da aplicação de uma nova lubrificação.

Na parte superior do mecanismo havia dois problemas: o mandril estava amassado e torto, sem condições de conserto; e a bucha do mandril estava completamente deteriorada, o que impedia o giro livre do mesmo. Então foi necessário trocar o mandril e instalar uma nova bucha. Uma nova correia também foi instalada e o mecanismo do fonógrafo funcionou muito bem.

O passo final foi a restauração dos reprodutores, que foram limpos e receberam juntas novas. As agulhas de safiras estavam em boas condições e não precisaram de reparo. Uma nova corneta deu o toque final para o trabalho.

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Com tudo pronto, chega aquele momento prazeroso de conferir o resultado de um longo período de trabalho, que facilmente soma mais de 100 horas de dedicação. Desta vez aproveitei a possibilidade de reprodução de cilindros de 4 minutos para experimentar um cilindro da série Royal Purple Amberol. Estes cilindros de coloração roxa foram lançados no final dos anos 1910. A série tinha como objetivo entregar uma melhor qualidade sonora e as gravações eram em boa parte dedicadas à música clássica. O cilindro que iremos ouvir a seguir foi lançado em 1920 e contém uma gravação de Frieda Hempel, interpretando a música Kentucky Babe.

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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