COLUMBIA VIVA TONAL
Publicado em 03 de março de 2021




A restauração dessa grafonola Columbia Viva Tonal foi minha primeira experiência com as máquinas sonoras de funcionamento totalmente mecânico. O trabalho nessa peça foi bastante intenso, tanto pela descoberta de um universo completamente novo, quanto pelos problemas que foram surgindo ao longo do caminho.
À primeira vista, a grafonola parecia estar em um bom estado de conservação, mas logo nas primeiras tentativas de audição o mecanismo estava sem força para tocar os discos de 78 rpm. O que não foi uma surpresa, pois esse problema é comum nas máquinas a corda de idade "avançada", principalmente quando passam um bom tempo sem ver algumas gotas de óleo e um pouco de graxa.
O primeiro passo foi desmontar toda a grafonola para fazer uma boa limpeza e lubrificação de todas as partes do mecanismo. É comum que a graxa velha perca suas propriedades com o tempo e se transforme em um material denso e pegajoso, que atrapalha completamente o funcionamento do sistema. Isso pode ocorrer tanto nas engrenagens, como nas cordas (molas) dentro dos motores.
A desmontagem das cordas talvez seja umas das etapas mais complicadas da revisão do mecanismo, exige uma atenção redobrada para que a corda que está comprimida dentro do compartimento do motor não escape repentinamente e cause acidentes.
Acredito não ser exagero usar alguns equipamentos de proteção durante esse trabalho, como camisa de manga longa, luvas e óculos. Para os marinheiros de primeira viagem - como foi o meu caso com essa grafonola - recomendo consultar materiais sobre o assunto disponíveis na internet para obter algumas dicas de como realizar o trabalho de forma segura. Registrei o meu processo e compartilho aqui a experiência.
Após a desmontagem, realizei uma boa limpeza de todas as peças. Algumas pessoas utilizam gasolina ou querosene para remover a graxa velha. É preciso atenção para lidar com essas substâncias, pois são tóxicas e de difícil descarte.

Utilizei um pouco de álcool isopropílico que eu tinha disponível no momento. Como a graxa não estava tão encrustada nas peças, foi possível remover tudo sem grandes dificuldades. Terminada a limpeza, o mecanismo foi montado novamente e uma nova graxa foi aplicada nas engrenagens e nas molas. Também coloquei óleo nas buchas, mancais e eixos. Não utilizei nenhum produto especial, usei apenas graxa comum e o famoso óleo Singer.
É importante ter um cuidado durante a montagem das molas, porque elas podem escapar das mãos e causar um acidente, tal como pode ocorrer durante a desmontagem. Acabei usando uma luva de borracha por cima da luva de malha, porque durante a montagem os fios da malha começaram a prender entre a corda. Mas a luva de borracha também não resistiu e começou a desmanchar. Acredito que optar por uma luva de proteção de material "emborrachado" seja o mais adequado para esse trabalho.
Concluída a montagem das cordas e de todo o mecanismo, conferi o funcionamento ainda fora da maleta. Tudo funcionou de forma “macia” e silenciosa. Terminados os testes preliminares, montei o mecanismo parcialmente dentro da maleta da grafonola para testar o funcionamento com um disco.
Para minha surpresa, mesmo depois de toda limpeza e lubrificação o mecanismo ainda apresentava dificuldades para tocar o disco. Conferi todos os ajustes para garantir o funcionamento do sistema com certa folga, mas o problema persistiu. Assim os resultados dos testes começaram a apontar para a possibilidade de as cordas estarem velhas demais.
Além disso, outro problema surgiu durante o processo de limpeza e lubrificação do mecanismo. Durante a desmontagem, reparei que não parava de sair aquele pozinho preto de dentro da caixa, o famoso “cocozinho” de cupim. A caixa parecia um “chocalho”, eu mexia para lá e para cá e não parava de sair resíduo. Nesse processo interminável e diante da dúvida se ainda haviam cupins vivos dentro da caixa, optei por retirar todo o revestimento e averiguar o tamanho do estrago.
Sem o revestimento foi possível perceber que os cupins “fizeram a festa” na caixa da grafonola. A boa notícia foi que a festa já tinha acabado e que os cupins já tinham ido embora. Mas a má notícia foi constatar que seria necessário fazer uma nova caixa para a grafonola, pois não compensaria tentar tampar todos os buracos.
Esse trabalho foi realizado pelo Álvaro, um parceiro da AMS Custom Cases, um profissional experiente que atua a anos na construção e revestimento de cases, maletas e outros.



Com caixa e revestimento novos, a grafonola já estava ficando quase pronta. Ainda havia a dúvida sobre as cordas, que talvez precisariam ser trocadas para que ela conseguisse tocar completamente ao menos um lado de um disco. Depois de montar o mecanismo na caixa nova, realizei uma série de testes e acabei descobrindo que o mecanismo conseguia sim tocar alguns discos do início ao fim. Testando vários discos foi possível observar que os discos mais “surrados”, com riscos e deformações eram os que não tocavam por completo. Mesmo lavando esses discos com a ajuda de um pincel de pelo natural e detergente neutro, a grafonola não conseguia tocá-los. Mas os discos em boas condições, sem riscos e deformações, tocavam normalmente.
Durante esses testes também foi possível observar que alguns discos 78 rpm mais “modernos”, provavelmente fabricados nos anos 1950, também não tocam bem na grafonola. Eles travam do meio da reprodução. Apesar de as grafonolas ainda estarem em uso durante nos anos 1950, devido à portabilidade oferecida pelo sistema mecânico que não necessitava de baterias e pilhas, alguns discos dessa época parecem se comportar diferente dos discos mais antigos. Uma suspeita é que talvez os sulcos dos discos de 78 rpm produzidos nos anos 50 tenham uma forma ligeiramente diferente visando o melhor desempenho nas máquinas elétricas com capsulas e agulhas eletrônicas. Mas é só uma suspeita, não fiz uma pesquisa a fundo para garantir que seja isso.
Por fim, como a grafonola está reproduzindo normalmente boa parte dos discos que tenho disponível, decidi não mexer nas cordas por enquanto, mesmo sabendo que provavelmente elas tenham perdido parte do seu potencial com o tempo. Seguirei com os testes e pesquisando mais sobre o assunto.