COLUMBIA GRAPHOPHONE MODEL Q
Publicado em 16 de dezembro de 2024




Em 1900, quando a Casa Edison estava sendo inaugurada na cidade do Rio de Janeiro, lá estava o Graphophone Modelo Q estampado a capa do catálogo de inauguração da primeira gravadora do Brasil. O pequeno fonógrafo, chamado de “Mignon” no catálogo brasileiro, foi lançado nos EUA ainda em 1898. Com uma máquina simples e enxuta a Columbia buscava competir no mercado dos fonógrafos de baixo custo, fazendo frente a modelos como o Edison GEM.
No catálogo de 1902, a Casa Edison anunciava o Graphophone Modelo Q pelo preço de 50 mil-réis. Comparando com outros fonógrafos anunciados no mesmo catálogo, notamos que o Modelo Q figurava entre os modelos mais baratos à venda pela Casa Edison, perdendo apenas para os “Lyrophones”.
O mais barato era o Puck Lyre, que custava 25 mil-réis, metade do preço do Modelo Q. No entanto, os “Lyrophones” são máquinas infinitamente mais simples e menos eficientes que os pequenos fonógrafos fabricados pela Columbia e Edison. Então na minha opinião é difícil fazer uma comparação justa entre os modelos.
O Graphophone Modelo Q foi produzido de 1898 até meados de 1904. Este que foi restaurado provavelmente foi fabricado mais ao final desse período. Essa estimativa toma como base alguns relatos de colecionadores experientes que encontrei em fóruns especializados sobre o assunto. De acordo com as informações, os números de série iniciados em 300 foram fabricados entre 1898 e 1900. Os iniciados em 600 compõe um segundo grupo intermediário. Então como o número de série deste é 843637, provavelmente está entre os modelos fabricados do meio para o final do período.
Além disso, há outras características de acabamento que ajudam a situar a máquina dentro do período de fabricação. Os primeiros possuem a base do mecanismo com o acabamento em aço sem pintura e a borboleta da corda é lisa sem detalhes. Além disso, a sustentação do sistema de controle de velocidade (governor) é feita por uma barra vertical fixada na base do mecanismo. Já os modelos posteriores contam com a base do mecanismo pintada na cor preta com aquele tradicional contorno em linhas douradas, e a borboleta é toda enfeitada em arabescos. Já o sistema de controle de velocidade é sustentado por uma barra horizontal fixada na lateral do mecanismo.







Outro detalhe que pode fornecer indícios sobre a fabricação da máquina é a presença de um decalque na parte de trás da tampa, que anuncia a premiação do fonógrafo na “The Grand Prize at Paris Exposition of 1900”. Logo, a presença do decalque indica que a máquina foi produzida de 1900 em diante. Entretanto, é preciso cautela com as tampas, pois elas podem ter sido trocadas em algum momento da história. Isso é mais comum do que parece.
Sobre a restauração, este Modelo Q chegou em boas condições em minhas mãos. Principalmente a tampa, que estava com o acabamento bastante preservado, contendo apenas manchas, sujeiras e oxidações na alça, presilhas e fechos. O decalque, apesar do craquelado, estava inteiro e com uma boa aparência. Então a restauração do gabinete de madeira pode seguir um caminho com poucas intervenções, sendo necessária a realização da limpeza e polimento das peças.
Por outro lado, o mecanismo precisava de um maior cuidado. Além da habitual lubrificação velha, como o mecanismo fica exposto, havia pontos de oxidação e bastante sujeira acumulada. Então, como sempre, foi necessário desmontar completamente o mecanismo para limpar e avaliar cada peça.
Depois disso, o mecanismo foi montado e lubrificado novamente para a realização dos testes iniciais. Como já relatado em outros processos, utilizo o tradicional óleo Singer nos mancais e encaixes das peças que giram. Nas engrenagens tenho aplicado uma pequena quantidade de graxa de silicone. Na rosca que transposta o braço de reprodução aplico grafite em pó. No compartimento da mola uso graxa comum, dessas usadas em automóveis.
Uma questão importante sobre a lubrificação é considerar qual será o uso do fonógrafo. Se for uma máquina de exposição que ficará aberta, é melhor aplicar a menor quantidade possível ou até mesmo nenhuma lubrificação, para evitar que o pó seja absorvido pelo lubrificante e se acumule em todo o mecanismo.
Voltando aos testes do mecanismo, logo de início tive dificuldades para tocar um cilindro inteiro. Revisei a montagem para garantir que havia folgas suficientes para as peças moverem livremente. Também melhorei a lubrificação em alguns pontos. Mas ainda não conseguia concluir a execução de um cilindro por completo, mesmo enrolando a corda quase até o final. Então tudo levava a crer que a corda já não tinha mais a força necessária para rodar o mecanismo. E realmente a troca da corda resolveu o problema.
Faltou mencionar que antes da realização dos testes foi necessário restaurar o reprodutor, que estava com o diafragma solto e sem a agulha de safira. Então foi necessário desmontá-lo totalmente, trocar as juntas, fixar novamente o diafragma e instalar uma nova agulha. Já indiquei em outros relatos uma demonstração desse processo realizada pelo Pedro Martínez aqui no seu canal no Youtube.
Outro detalhe envolvendo o reprodutor era a ausência do anel que sustenta o mesmo no encaixe do fonógrafo. Sem esse apoio o reprodutor fica sempre para baixo, na posição de reprodução, tocando a superfície do cilindro. Assim não é possível movimentar corretamente o reprodutor sob o cilindro para localizar o ponto certo de início da música. Então foi necessário adaptar uma peça semelhante para permitir o controle da posição do reprodutor, para baixo ou para cima, movendo a pequena alavanca localizada na parte inferior do encaixe.
Para finalizar o processo faltava apenas a corneta. É bastante comum encontrar fonógrafos que estejam sem algumas das suas partes removíveis, como a manivela, reprodutor, corneta e até mesmo a tampa do gabinete. As cornetas originais são até mais difíceis de serem encontradas do que os próprios fonógrafos, sobretudo em bom estado de conservação. O caminho quase sempre é recorrer as réplicas, que podem ser encontradas à venda em sites como o Ebay.
Com o fonógrafo completo e restaurado é chegada a hora de conferir o resultado do processo. Selecionei para o vídeo um cilindro gravado pela própria Columbia e lançado na mesma época do fonógrafo. A música se chamaThe Birds and The Brook, um tema instrumental executado pela Columbia Orchestra.

