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AKAI TERECORDER M6
Publicado em 28 de março de 2021

Procurando por informações pela internet foi difícil encontrar uma fonte segura sobre o ano exato do lançamento do Terecorder M6 pela empresa japonesa Akai. Mas provavelmente esse modelo surgiu logo no início dos anos 1960, dando prosseguimento a linhagem dos gravadores modelo “M”. Da passagem do Akai M4 para o M5 houve uma evolução considerável através da reconfiguração do circuito de pré-amplificação e também o acréscimo da opção de gravação em 15 IPS. É possível encontrar mais especificações dos dois modelos no site HiFi Engines, inclusive os manuais e esquemas elétricos.

Infelizmente não encontrei informações sobre o Akai M6 no HiFi Engines. Acabei encontrando informações "picadas" em outros sites e fóruns.

O M6 é uma evolução do M5, com configurações muito semelhantes. A única diferença significativa que encontrei entre os dois modelos foi a adição de uma saída de áudio na etapa de pré-amplificação no M6. Por meio de um conector externo é possível obter o sinal de áudio pré-amplificado de ambos os canais, antes da etapa de amplificação. Lembrando que esses modelos possuem amplificação própria e alto-falante embutido, um sistema pensado pra dar autonomia e portabilidade ao equipamento. Não é por acaso que esses gravadores eram montados em gabinetes em forma de maletas, com tampa e alça para transporte. Mas era preciso força para carregá-los, para se ter uma ideia o M6 pesa aproximadamente 20kg.

Os testes preliminares do gravador mostraram que algo não estava bem com o circuito eletrônico. Apesar de haver algum sinal de “vida”, através de um piscar intermitente da luz indicativa de que o equipamento está ligado, o motor não estava girando e não havia nem sinal daquele chiado característico que saí do alto-falante.

Iniciei o trabalho pela revisão do mecanismo, fazendo a remoção de toda a lubrificação velha para aplicar uma nova camada de óleo e graxa. Como já relatei em outros processos, uso sempre óleo Singer nos rolamentos, mancais, eixos e buchas. Nas partes metálicas que trabalham se movimentando umas sob as outras, aplico uma camada de graxa, ou até mesmo vaselina industrial. É importante também desmontar e lubrificar internamente os suportes dos carreteis. Mas é preciso atenção para não perder as várias molas, arruelas e travas que compõe o sistema. Na dúvida, recomendo  uma consulta ao manual de serviço do gravador.

akai terecorder m6 - mecanismo
IMG_0046_edited.jpakai terecorder m6 - mecanismo
akai terecorder m6 - motor

Outra parte que deve ser lubrificada é o motor, que possuí um orifício na parte da frente e atrás para que o óleo seja injetado. Normalmente, desmonto todo o motor para conferir as condições gerais do mesmo. Essa inspeção foi importante no trabalho com o M6, porque acabei descobrindo que a espuma que retém o óleo e ajuda manter o mancal e o eixo lubrificados estava completamente deteriorada.

Limpei todo o compartimento, removendo o óleo velho e os pedaços da espuma. Para resolver o problema improvisei uma nova espuma, que comprei em uma loja de colchões perto de casa. Cortei a espuma no formato do compartimento e apliquei alguns pingos de cola instantânea para fixar a mesma.

 

Feito isso, limpei todo o motor, apliquei óleo novo e o montei novamente.

Seguindo na revisão do mecanismo, iniciei a inspeção das borrachas, que são sempre peças críticas por ressecarem e perderem a funcionalidade. Basicamente, nesse tipo de gravador temos borracha nas correias e polias. Começando pelas correias, tanto a do motor, quanto a do contador de voltas estavam sem condições de uso. Conforme comentei no relato sobre o processo de restauração do Terecorder Deluxe, a Akai manteve por muitos anos o mesmo projeto dos mecanismos de alguns modelos de gravadores. Claro, adicionando novidades e funções, mas sempre dentro de um projeto base muito semelhante. Dessa forma, apesar de não encontrar as correias específicas para o Terecorder M6, usei as correias da série 4000 (DS, DB, GX...), que cabem e funcionam perfeitamente nesse modelo. As correias da série 4000 são relativamente fáceis de encontrar a venda.

Para finalizar essa etapa, revisei as polias internas e todas estavam bem preservadas, então não foi necessário trocar nada. No entanto, o rolo pressor estava com a borracha já em processo de deterioração. Eu havia comprado há muito tempo atrás uma borracha nova para recondicionar o rolo pressor de um Akai 4000DS, mas acabei não usando. Como as medidas eram semelhantes, usei essa mesma borracha para recondicionar o rolo pressor do M6. Tirei a borracha velha com a ajudar de um estilete e apliquei a nova, usando alguns pingos de cola instantânea para fazer a fixação.

Os rolos pressores são um problema comum na restauração desses gravadores. Além da deterioração natural da borracha com o tempo, o excesso de limpeza da peça com líquidos abrasivos ao longo dos anos acaba acelerando o processo de ressecamento da mesma.

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akai terecorder m6 - capacitor
akai terecorder m6 recap

Terminada a revisão do mecanismo, passei para o reparo do circuito eletrônico. O ponto de partida foi fazer a troca de todos os capacitores eletrolíticos e a óleo do circuito. Esses dois tipos de capacitores tendem a perder suas propriedades após longos anos e acabam se tornando uma fonte de problema.

Vou deixar a polêmica discussão sobre a qualidade dos capacitores para uso em circuitos de áudio e vou direto ao ponto. Assim como fiz no restauro do Akai Terecorder Deluxe, achei que esse M6 merecia capacitores um pouco melhores do que os de uso geral encontrados em qualquer esquina. Dessa forma, usei capacitores do tipo audio grade, ou seja, projetados para serem aplicados em circuitos de áudio. Os eletrolíticos usei os Nichicon da série MUSE. Já os capacitores a óleo foram substituídos pelos de poliéster da Mallory.

Os capacitores eletrolíticos de alta voltagem do circuito de alimentação, usei capacitores comuns da marca Rubycon. No caso do capacitor eletrolítico de 20uf + 20uf/350V, optei por usar um capacitor eletrolítico duplo da JJ de 33uf + 33uf/ 500V. Uma outra opção teria sido usar dois capacitores comuns de 22uf/350V, soldando os terminais negativos juntos.

Com capacitores novos, iniciei novos testes de funcionamento do gravador. Um sinal positivo, a luz que indica que circuito está ligado parou de piscar de forma intermitente e o motor estava funcionando perfeitamente.

 

Testei todas as funções do mecanismo e tudo funcionou muito bem. No entanto, percebi logo de cara que ainda havia algum problema no circuito eletrônico, porque não havia nem sinal daquele “chiadinho” característico saindo do alto-falante.

Conferi todo o circuito, ponto a ponto. Como não encontrei o esquema elétrico do M6, fui me orientando pelo esquema do M5, disponível aqui no site HiFi Engine. Estava tudo certo, então fiz o teste definitivo, injetei um sinal de 1kHz na entrada do sistema e acompanhei o caminho do sinal pelo circuito medindo com o osciloscópio. Para meu alívio, não havia nenhum problema no circuito. O sinal estava chegando normalmente na saída, o que me fez desconfiar então do funcionamento do alto-falante.

Realmente o problema era o alto-falante, que apesar de estar com uma boa aparência, estava com defeito na bobina. Acabei tendo que levar para o recondicionamento. Durante a desmontagem do alto-falante, reparei que o mesmo parecia ter sido adaptado no gravador. Apesar de ser um alto-falante Akai também, foi possível notar que as furações não coincidiam com a furação da chapa de madeira onde o ele estava fixado.

akai terecorder m6 falante

É importante dizer que, apesar do M6 ser um gravador estéreo dois canais, ele possui somente um alto-falante interno, então funciona com apenas um canal quando não está conectado a um sistema externo. Dessa forma, se você estiver ouvindo a fita através do alto-falante embutido, estará ouvindo somente o canal esquerdo (Left). Nessa época, a Akai vendia caixas acústicas a parte para serem conectadas na saída dos dois amplificadores do gravador. Além disso, usando as saídas pré-amplificadas de cada canal é possível conectar o gravador a um amplificador externo. Existem mais informações sobre esse assunto no manual de instruções, clique aqui para ver.

Voltando a história do alto-falante com defeito, depois de recondicionado, testei tudo novamente e dessa vez funcionou perfeitamente. Mas durante a montagem do alto-falante de volta no gabinete foi necessário fazer uma nova chapa de madeira para a fixação, porque a antiga estava apodrecendo e começou a quebrar durante a montagem. Na verdade, a chapa não era de madeira, mas sim um material tipo Eucatex. Fiz uma nova de MDF, como a espessura do material era de 3mm foi possível cortar manualmente com uma serra o buraco oval do alto-falante. Feito isso, consegui montar e ajustar perfeitamente o alto-falante no gabinete.

Dois detalhes que reparei nesse Terecorder M6, tanto os VU’s quanto as duas alavancas de PLAY/REC e REW/FF não são originais desse modelo. Os VU’s são do Akai M8 e talvez tenham sido instalados porque os originais apresentaram algum defeito. Ou talvez o antigo dono achou esses mais bonitos.

Sobre as alavancas, o gravador estava com duas peças do modelo X-2000 da Akai, elas possuem o desenho mais reto e com detalhes em forma de linhas com acabamento em aço, um estilo que passou a ser frequente nos modelos dos anos 1970.

Procurei por sucatas do M6 a venda pela internet, mas não consegui encontrar as alavancas. Acabei encontrando no Ebay duas alavancas do gravador 192FT da marcar Roberts Eletronics, similares as usadas pela Akai em alguns modelos, como nos próprios Terecorder M4 e M5. São bem semelhantes às alavancas originais do M6, mas existem pequenas diferenças no formato e na cor. Por serem peças da mesma época ficaram bem melhores que a adaptação anterior e deram um toque ainda “mais vintage” para o gravador.

Durante a busca por sucatas do M6 pela internet, acabei encontrando a placa frontal que faz o acabamento do mecanismo. Ela estava muito bem conservada, sem muitos arranhões e com a serigrafia perfeita. Como a placa frontal que estava anteriormente no M6 já havia passado por significativas modificações (lixada, envernizada e sem serigrafia), comprei a "nova" placa para dar o toque final no acabamento do gravador.

 

Hora de conferir o funcionamento dessa máquina sonora de meados dos anos 1960.

akai terecorder m8 VU
akai terecorder m6 alavancas

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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