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AKAI FRANKENSTEIN M7
Publicado em 27 de fevereiro de 2022

Há tempos adquiri esse gravador como sucata para retirada de peças. Usei uma ou outra na manutenção de outros gravadores e depois disso ele acabou ficando guardado sem muita serventia. Um belo dia decidi colocá-lo para funcionar, mas como o gravador era metade de um Akai M7 montado no gabinete de um 707, o projeto teria que ser um modelo customizado. Na verdade, customizado seria uma forma mais chique de dizer que o gravador seria um juntado de peças de modelos diferentes. Por isso achei melhor chamá-lo carinhosamente de Frankenstein M7.

Antes de me preocupar com o acabamento, achei melhor colocar tudo pra funcionar. Comecei pela revisão do mecanismo, desmontando para fazer uma boa limpeza e aplicar uma nova lubrificação.

Além da limpeza e lubrificação, foi necessário trocar as polias que tracionam os carretéis que transportam a fita, as mesmas já estavam com a borracha ressecada - um problema bastante comum em equipamentos dessa idade. As polias dos gravadores Akai da série 4000 cabem perfeitamente no mecanismo do M7 e consegui comprar duas em boas condições para substituir as ressecadas. O rolo pressor também estava com a borracha deteriorada, o que não é uma surpresa nesses gravadores. Por acaso eu tinha uma borracha sobressalente guardada, que eu havia comprado para recondicionar um rolo pressor de um 4000DS. A borracha coube perfeitamente no rolo pressor do M7.

Para finalizar essa etapa fiz a troca de todo o cabeamento que conecta as chaves elétricas que controlam o mecanismo. Havia cabos expostos com isolamento aberto e algumas pontas soltas em determinados pontos do circuito. Com o diagrama elétrico em mãos fui verificando o caminho do sinal nas chaves e instalando cabos novos. É possível consultar o diagrama no manual de serviço do gravador, que está disponível gratuitamente aqui no site Hifi Engine.

O próximo passo foi fazer a revisão do circuito amplificador. Fiz um teste inicial para ver se dava algum sinal de vida, mas nada aconteceu. Então comecei a revisão trocando todos os capacitores eletrolíticos e a óleo. Eu tinha algumas sobras de capacitores de excelente qualidade e aproveitei para usá-los. No lugar dos capacitores a óleo, instalei capacitores de poliéster da Mallory série 150M. Já os eletrolíticos, usei alguns Nichicon MUSE, salvo os filtros da fonte, que são de alta tensão e coloquei capacitores eletrolíticos comuns da Rubycon.

akai m7 mecanismo
akai m7 mecanismo
akai m7 amplificador

Mesmo com os capacitores novos instalados, não “saía” som nenhum do gravador. Então injetei um sinal na entrada do circuito e fui percorrendo o caminho medindo com o osciloscópio até encontrar o ponto com problema. Descobri que o sinal passava bem por toda a etapa de pré-amplificação do circuito, mas não chegava até a válvula 6BQ5, responsável pela etapa final de amplificação.

Como o amplificador do M7 possui uma saída de áudio direto da etapa de pré-amplificação, consegui conectar o gravador em um amplificador externo e voilà! Usando uma fita de teste finalmente consegui ouvir alguma coisa. Fiquei aliviado, pois significava que a cabeça de reprodução e os componentes ligados a ela também estavam funcionando.

Voltei para o circuito para achar o defeito que impedia o sinal de chegar até a 6BQ5. Não foi difícil, medindo o caminho do sinal descobri um resistor com um terminal aberto. Bastou soldar o terminal para o sinal fluir normalmente até a etapa final da amplificação. Refiz o teste de reprodução da fita, agora usando a amplificação do próprio gravador, e funcionou perfeitamente. Medi a frequência e a tensão de BIAS, conforme as instruções do manual de serviço, e obtive resultados bem próximos dos indicados. Fiz um teste de gravação e tudo funcionou perfeitamente.

Aqui relatei todo esse processo de forma bastante resumida. Mas na verdade gastei boas horas entre a revisão do mecanismo, amplificador até chegar ao pleno funcionamento do gravador. Todo o processo envolveu diversos ajustes para alinhar todo o sistema.

 

Recomendo seguir as etapas indicadas no manual de serviço do gravador, praticamente todos os ajustes necessários estão bem descritos lá. 

A única coisa que não encontrei no manual foi uma resposta para um problema específico que estava acontecendo no sistema de parada automática do mecanismo (Automatic Stop). Mesmo passando a fita pelo braço que dispara a parada automática, o mecanismo não estava parando quando a fita chegava ao final. Quebrei a cabeça até entender a dinâmica do sistema e perceber que o problema era o braço do pause, que estava desajustado e não estava parando corretamente ao ser acionado pelo mecanismo de parada automática. O braço do pause subia desligando o gravador, mas logo em seguida descia e ligava o gravador novamente. Percebi que o pequeno apoio de metal que trava o braço do pause na posição stop estava gasto. Uma saída foi virar a pequena peça e usar a outra face sem desgaste. Após alguns testes e ajustes, a parada automática finalmente funcionou.

akai m7
akai m7

Com tudo funcionando, valia a pena agora investir em um novo acabamento para a maleta. A aplicação de um novo revestimento foi feito pelo amigo Álvaro da AMS Custom Cases.

 

Mas como haviam várias ferragens faltando na maleta, achei prudente instalar e testar as ferragens novas primeiro. E a escolha foi acertada, pois acabei descobrindo que a tampa não fechava perfeitamente. Isso porque a chave de seleção de pistas da cabeça magnética do M7 é maior do que a do 707, então a tampa encostava na chave antes de chegar até o final. Como o gravador era uma sucata e veio meio desmontado, eu não havia percebido esse detalhe antes. Por fim, tive que rebaixar o apoio de madeira no interior na maleta para que o mecanismo descesse um pouco mais para dentro da mesma, criando uma folga na parte de cima e permitindo que a tampa fechasse completamente.

Na parte superior da maleta, a tela do alto-falante estava bastante amassada. Adaptei uma nova tela perfurada usada em caixas acústicas. Para combinar com o acabamento cromado do painel frontal, optei por fazer o polimento da peça, em vez de pintá-la. Fiz o lixamento e depois finalizei polindo com massa de polir automotiva. Para alcançar um bom resultado nesse processo é importante ir reduzindo o grão da lixa até finalizar com uma bem fina, uma 1500, ou 2000.

Esqueci de mencionar que o alto-falante estava com pequenos furos e com a bobina queimada. Então foi necessário recondicioná-lo. Também fiz um novo suporte para fixar o alto-falante na maleta. A peça original de madeira estava podre e não foi possível reaproveitá-la. No lugar da chapa compensada usei um MDF de 04 mm de espessura. Na hora do corte, contei com a experiência do Dom, meu pai, no manuseio da serra tico-tico. O corte circular ficou perfeito. Finalizei a peça com uma tinta preta para dar uma melhor acabamento.

akai m7
akai m7
akai m7

Por fim, na parte frontal, a tampa do mecanismo estava com a serigrafia bastante prejudicada e com o verniz descascando em vários pontos. Acabei removendo todo o acabamento e polindo a peça. Gostei bastante do resultado e optei por deixar o acabamento somente com o polimento. Para refazer a serigrafia teria que investir um pouco mais de dinheiro. Então pensei em recorrer a soluções mais acessíveis. A primeira opção era fazer adesivos com corte digital, que permitem obter somente as letras das palavras sem fundo. No entanto, não encontrei gráficas que recortassem letras pequenas, parece haver um limite de tamanho devido ao funcionamento da máquina de corte. A solução foi improvisar umas etiquetas adesivas a moda antiga, o que combinou bem com o estilo Frankenstein do gravador.

No amplificador, estava faltando o botão (knob) que dá o acabamento na chave de seleção de equalização. Não consegui encontrar nada parecido para colocar no lugar. Então acabei trocando todos para ficarem iguais. Achei a venda alguns botões dos gravadores Roberts, ao estilo do Akai 707. Também instalei lâmpadas novas no V.U., as originais haviam sido removidos.

Com tudo montado é chegada a hora de testar! Ah, um detalhe importante que não mencionei logo no início. Quando falei que o gravador era metade de um M7, foi quase que literalmente, porque o M7 é um gravador estéreo que conta com dois circuitos amplificadores. Mas o Frankstein M7 tem apenas um dos dois amplificadores, ou seja, ele é um gravador mono, aos moldes dos modelos do começo dos anos 1960. Vamos conferir o resultado!

akai m7
vu akai m7

© Desenvolvido por Marcelo Sgrilli.

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