AKAI 707
Publicado em 20 de julho de 2022




Este gravador de rolo é relativamente comum aqui no Brasil, principalmente quando comparado com outros tapes valvulados da empresa japonesa Akai. Mas curiosamente este modelo não é tão conhecido assim pelo mundo afora, inclusive de vez em quando aparecem anúncios em sites estrangeiros vendendo estes gravadores por preços bastante elevados.
Procurando na internet há poucas informações sobre o modelo, encontrei apenas alguns poucos tópicos publicados em fóruns. Mas as postagens são basicamente relatos de usuários que adquiriram o gravador e também estão à procura de mais informações sobre o modelo. Por se tratar de um gravador valvulado monofônico, acredito que sua fabricação deva ter ocorrido logo no começo dos anos 1960.
Nesta época a Akai estava fabricando os Terecorder, como o próprio Deluxe que restaurei tempos atrás. Comparando o Akai 707 com o Deluxe é possível ver que existem similaridades, como o circuito eletrônico que também utiliza duas válvulas 6AU6 na etapa de pré-amplificação. Característica presente também no M4, primeiro modelo da linha "M" que foi lançado em 1960. Mas nos modelos subsequentes (M5, M6, M7), a Akai mudou o circuito e passou a empregar as vávulas 12AX7 no lugar das 6AU6. Então suponho que a fabricação do Akai 707 tenha ocorrido neste ínterim.
Especificamente sobre este gravador que restaurei, a história começou ainda em 2019, quando pela primeira vez comecei a procurar por gravadores de rolo valvulados. Encontrei este a venda por um jovem rapaz que estava se desfazendo de objetos deixados por seu avô, que já havia falecido há cerca de 10 anos. O avô havia trabalhado no passado como técnico em eletrônica e os gravadores de rolo eram uma de suas paixões. Segundo o rapaz, após o avô comprar um Akai 4000DS, este 707 passou a ficar guardado dentro da caixa por anos.
E realmente o gravador estava guardado dentro da caixa original, inclusive com a etiquete de fábrica fixada na alça, algo pouco comum de se ver. Mas como todos os objetos deixado pelo avô ficaram guardados dentro de uma casa fechada por 10 anos, a umidade não foi generosa e o mofo já havia tomado conta de boa parte da maleta do gravador. Quando vi a condição da maleta já considerei que não seria possível recuperar o revestimento e o receio era a madeira que estava por baixo, será que estaria em boas condições? E como estaria a toda a parte mecânica e eletrônica?




Mesmo com essas questões em mente, acabei assumindo o risco e iniciei um processo de troca de equipamentos com o rapaz. Ele estava a procura de um amplificador para ligar um toca-discos deixado pelo avô. A intenção dele era manter a tradição dos equipamentos vintage na família. Nesta época eu tinha um receiver Kenwood muito bacana que já não usava mais e então fizemos a troca.
Do dia da troca dos equipamentos, lá em 2019, até o momento em que escrevi este relato, em 2022, muita coisa aconteceu. Muita coisa mesmo! Ao longo destes mais de dois anos o processo de restauração deste Akai 707 foi ficando em segundo plano e passou a acontecer em doses homeopáticas.
Mas ainda lá em 2019 eu já havia desmontado tudo e descoberto o tamanho do trabalho. Realmente a maleta preciva de um novo revestimento, mas a madeira não estava comprometida, apenas com alguns pedaços que precisavam ser colados novamente. Já o mecanismo e o circuito eletrônico estavam em um excelente estado! Surpreendentemente não havia sinais de oxidação e nem mesma sujeira acumulada. Apenas notei algumas marcas no VU que indicavam que alguma manutenção já havia acontecido ali.
Como quase sempre, iniciei o trabalho fazendo uma boa limpeza, desmontado todas as partes moveis do mecanismo, limpando e aplicando uma nova lubrificação. Realmente as peças estavam como novas, até mesmo as polias internas estavam em boas condições. Foi necessário trocar apenas as correias (motor e contador) e o rolo pressor, que estava com a borracha deteriorada. O rolo pressor tem um diâmetro um pouco maior e desta vez não foi possível usar a borracha do 4000DS, que costuma ser mais fácil de encontrar a venda. Mas um amigo encontrou uma borracha que serviu perfeitamente, apenas com o detalhe de ser da cor azul.
Concluída a revisão do mecanismo, prossegui realizando uma limpeza geral do circuito eletrônico com álcool isopropílico e também aplicando limpa contato nas chaves, potenciômetros e conectores. Conferi a emissão das válvulas e estava tudo bem. Fiz um teste preliminar e o gravador funcionou quase que por completo.
O alto-falante estava queimado e precisou ser levado para o recondicionamento. Já o VU realmente tinha um problema, também estava queimado. Ao desmontá-lo foi possível notar que a pequena molinha que comanda o ponteiro estava totalmente deteriorada. Segui aquele mesmo caminho relatado na restauração do VU do Terecorder Deluxe, instalando um novo conjunto retirado de um VU em funcionamento. Esse processo não é complicado de ser feito, com paciência e cuidado dá certo. O mais difícil é achar um VU semelhante e que caiba perfeitamente na carcaça em questão. Como eu havia comprado dois VU’s retirados de gravadores Webcor na época em que restaurei o Terecorder Deluxe, eu já tinha em mãos um VU que funcionaria perfeitamente. Então o resto do trabalho foi mais simpes. Importante dizer que o VU deste modelo só atua durante a gravação.
Nestas restaurações de equipamentos valvulados, mesmo quando o circuito eletrônico está funcionando, tenho realizado a troca de todos os capacitores eletrolíticos e a óleo, uma vez que esses dois tipos costumam dar problema com o tempo. Este trabalho foi realizado na mesma época em que eu estava restaurando o Akai Terecorder M6 e usei os mesmos tipo de capacitores audio grade. Os eletrolíticos foram os Nichicon da série MUSE e os capacitores a óleo foram substituídos pelos poliéster da Mallory.




Os capacitores eletrolíticos de alta tensão do circuito de alimentação, usei capacitores comuns da marca Rubycon. No caso do capacitor eletrolítico de 20uf + 20uf/350V, optei por usar um capacitor eletrolítico duplo da JJ de 33uf + 33uf/ 500V.
Finalizada a revisão do circuito eletrônico tudo estava funcionando adequadamente, tanto a reprodução, quanto a gravação das fitas magnéticas. É sempre surpreendente pra mim a qualidade de som destes pequenos amplificadores valvulados da Akai. Apesar da baixa potência, com o potenciômetro antes da metade já é possível obter um bom volume e um som agradável.
O toque final do trabalho foi realizado pelo amigo Álvaro da AMS Custom Cases, quem aplicou um novo revestimento em toda a maleta. Procurams usar materiais que lembrassem os aspectos do revestimento original, mas foi necessário alterar alguns detalhes. Como a aplicação de um pequeno friso lateral para fazer um melhor acabamento na emenda dos dois materiais de cores diferentes. Além disso, optei por não fazer a faixa na parte da frente da tampa, já que não seria possível gravar a logomarca da empresa tal como o original. Para acompanhar o novo revestimento, fiz a limpeza e polimento de todas as ferragens, cada parafuso foi limpo individulamente para deixar o gravador com aspecto de novo, como se tivesse saído de fábrica.
Enfim, desta vez fiz um relato enxuto contentdo apenas as etapas principais do trabalho, porque com as idas e vindas deste projeto ficou impossível lembrar de cada detalhe. Por outro lado, o prazer de apreciar o trabalho concluído só aumentou com o tempo. Vamos conferir o resultado ao som de uma fita lançada em 1965, a clássica The Sound of Silence, interpretada pela dupla Simon & Garfunkel.